Mariana
Mariana tinha 5 anos quando viu pela primeira vez alguém morto. Ninguém escondeu dela, era coisa da vida, a avó dizia. Mas ela olhou o corpo do cachorro Teco, que a carregou por tantas brincadeiras, e pensava para onde o latido dele tinha ido.
O pai não sabia dizer, a mãe ficou com o olho cheio de lágrima, não respondeu. A avó, sentenciosa, disse que tinha ido para o céu dos cachorros. A avó não sabia, mas o pai havia dito que essa coisa de céu era besteira. Então para onde?
Quando a prima Lourdes morreu, ela cansou de perguntar: para onde foi a risada dela? A avó só dizia: para o céu.
Aí a avó morreu, Mariana tinha 8 anos. Para onde foi a risada, o colo, as broncas? Perguntou para a tia, que mandou ela se calar. Ela calou, mesmo querendo saber a resposta. Para onde?
A avó dizia que era para o céu, então Mariana olhou para o céu e pediu para ouvir os latidos, a voz da avó, a risada da prima. O céu, que estava bem claro aquele dia, não disse nada, mas o vento soprou e levou para o longe a tristeza e Mariana entendeu que lá era o céu.
0 comentários:
Postar um comentário