Tô só observando

Tô só observando

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Sssssshhhhhhhhhh

Vivemos empuleirados e com tantas coisas ao nosso redor que fica difícil ver. Para enxergar é necessário tirar da frente e com tantos prédios, tanta gente, tanta bugiganga, tanto falatório, como ver? Como ouvir? Como? Ssssshhhhhhhhh

Às vezes tenho um ímpeto quase homicida de mandar todo mundo falar baixo, gritar menos, falar menos. Aí, a pessoa, com  tanta razão, pode mandar que eu cale a boca! Não é certo?! É!!!!! Aí penso: sssshhhhhhh!!!!!!!

Muito barulho, fulano que quer que você concorde com beltrano, buzina, atropelamento de palavras e gente e tiro e morte, reais e pessoais, como escutar a si? SSSSSSSSSssshhhhhhhHHHHHH

E quanto mais eu brigo para que pare de pensar, mais a cabeça fala, prá me provocar, como criança mimada que você dá um grito e ela cisma em colocar o dedo na ferida, sabendo exatamente que botões apertar dentro de si, para que você aceite aquele falatório impulsivo.

AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH
SSSSSSSHHHHHHHHHHHHHHHSSSSSSSSSSSSHHHHHHHHHHH

Nova reforma, novos martelos, nova serra elétrica, só eu que continuo igual a esses barulhos. Devo ignorá-los e quanto mais penso isso, mais os ouço. A vida é pândega e, como toda brincadeira, esconde Seu ensinamento.

ssshhhhh baixinho, com dedo na boca.

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sexta-feira, 25 de abril de 2014

Bem No Meio

No meio de toda a cidade, onde me acho?

Comecei a procurar no outro o que estava em mim e olhando para fora, me senti só, porque eu não estava lá. Eu não sou aquela que olha no espelho. Aquela mente para mim. Diz que estou envelhecendo, que não tive filhos, que não sou casada, que morrerei só.

Aquela diz coisas que não quero ouvir.

Aquela tem medo, sofre, chora, ama, ri, fica doente, ajuda pais e amigos, ouve os sofrimentos dos outros, sofre com eles, tem insônia, amarrota a roupa, não lava a louça, solta pum, tem azia, má digestão, dor de cabeça.

Aquela sente coisas que não quero sentir.

Aquela tem uma história que não é a que eu gostaria de contar, porque ninguém tem que saber da gente, só a gente, porque queria ter tido outros problemas, ou se tivesse tido os mesmos, que pudesse ter feito com eles, outras coisas, não o quê fiz.

Aquela viveu de um jeito que eu não quero viver.

Aquela reage sempre da mesma forma, fica presa a um redemoinho de emoções, aos pais, ao chefe, à vida, à perda, tudo quase igual, desde menina, desde, desde, desde...

Aquela pensa de um jeito que não quero pensar.

No meio de tudo isso, onde me acho?

Sinto-me entre duas paredes de arranhas-céus muito altos e elas vão se fechando sobre mim, comprimindo meu peito junto as buzinas. No fundo, ainda ouço o barulho da geladeira da minha casa, como se houvesse silêncio a minha volta.

Parando de procurar, será que acho?

Parando de achar, será que...

E aquela que olha no espelho, aquela que não quero olhar, quando pensa nisso tudo, relaxa, porque sente-se vingada, não é só ela que sofre. Eu também sofro agora.

Mas parando, será que...

Acho que ...

Ach...

Parou.

Silêncio no fundo.

A cabeça parou, por um instante. Aquela que não existe...  Mas e eu?

Voltei a achar, voltei, voltei, voltei, como um carro que deu uma pequena engasgada.

Acho que a geladeira quebrou. Tá um silêncio...

Estalo.

Não quebrou não.


Onde estou? Bem no meio. 

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terça-feira, 15 de abril de 2014

Tempo que escorre, Lua sangra

Hoje tive a sensação nítida do tempo escorrer sobre meus dedos, mais rápida do que a água quando lavo as mãos.

Dia sombrio e fui ler um pouco sobre a Lua Sangrenta que aconteceu hoje às 3 horas da manhã. Estranho foi descobrir que este é um fenômeno que se repetirá por mais 3 vezes, ou seja, 4 ao total, sempre na Páscoa Judaica e Festa do Tabernáculo, que eu não sei o que é.

Também dizem que a Nasa concorda que esse fenômeno está na Bíblia, mais especificamente no Apocalipse.

Quando eu era criança, achava Dança com os Vampiros, do Roman Polanski, assustador - tinha 6 anos - e acreditava exatamente no que era dito nas profecias - ok, aí já estava mais velha.

Hoje, eu desconfio. Nada é maniqueísta assim: bom OU mal, bonito OU feio. Ah que lugar comum!!! Sim, de qualquer forma, prefiro acreditar em metáforas. Metáforas são perigosas de tão lindas, porque você as entende com o coração e esse tipo de certeza, ninguém tira.

Tanto é que no filme O Carteiro e o Poeta, quando a tia vai reclamar ao padre sobre o namorico do carteiro com a sobrinha, o padre pergunta:
"Mas o que ele diz a ela?"
"Metáfora", a velhinha responde.

Ela sabia do perigo dessa figura de linguagem.

As pergunta que me fiz são: qual é o significado desse eclipse? Como ele pode me ensinar? O que ele quer ensinar? Onde perguntar? Vale ficarmos atentos a outro tipo de linguagem.


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quinta-feira, 10 de abril de 2014

O outro

Adoro a frase "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é". Caetano. Duro, de tão verdade. 

Sempre achamos que o outro é melhor ou, pior.
Sempre julgamos.
Sempre comparamos.
Dificilmente, simplesmente, ouvimos o outro.
Colocamo-nos no lugar dele.
Clichê?
Pode ser, mas é um ato amoroso e, ele volta para você.
Na hora que começa a chorar, de repente, alguém que não estava previsto, estendeu o ombro.
Alguém que te conhece há muito tempo, percebe sua angústia, e manda um email, contando algo que fala diretamente ao seu coração.
É incrível esse movimento e poder assistí-lo, entender que existe um Tempo, entender que nem tudo é certo e errado, preto e branco.
Que as nuances que todos temos, muitas vezes não são bonitas, mas olhá-las de frente, nos humaniza. 
Que o outro, no fundo, não é tão diferente e desconhecido quanto você é de você mesmo.

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terça-feira, 8 de abril de 2014

Em 7

Nascemos inteiros?
Nascemos pedaços e depois vamos tentando juntar tudo,  para ser completo?
Somos falésias desgastadas pelo tempo , pela erosão da vida?
Somos eternos viajantes, estrangeiros a nossa própria caminhada?
Por que nos falta tanto?
Por que oco?
Oco, oca, buraco, amargo
Cicatriz aberta como um Canyon ressecado
Quero jorrar como a Sete Quedas
7
7 o quê?
7,  sem quedas
Tantos 7...
Que a dor ansiosa que a vida carrega no peito suma, 7
Que os pés sintam o chão, 6
Que o ombro não carregue fardos, 5
Que o olho sorria, 4
Que a mão acalante, 3
Que o corpo se abra, 2

Que fiquemos inteiros, 1

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terça-feira, 1 de abril de 2014

Cheiro Velho

Ela queria que tivesse sido diferente, mas já não havia tempo, já não havia graça, só havia medo. Medo de não existir, que era, no fundo, o que ela queria. Deixar de existir. A vida parecia tão dura aquela hora. Viu o caixão descer e teve um ataque de riso, daqueles que a gente só dá quando está no circo e o palhaço nos dá um susto.

Foi assim que ela riu, porque lembrou de uma conversa boba que tivera com Ernesto quando ainda namoravam. Você não pode chorar quando meu caixão estiver descendo, estarei esperando por você lá do outro lado, com os braços abertos, como para abraçar uma criança que vem correndo. Ela achou aquilo tão besta, ficou chocada com o comentário fora de hora. Bateu no ombro dele. Que conversa besta. Sou mais velho que você, é a ordem.

A ordem deveria ser morrermos juntos, estar esclerosada, não sentir a dor da perda, não ver você sofrer. Essa era a ordem sargento. Você não obedeceu ao coronel. Quando mesmo que eles deram essas insígnias um ao outro? Ah, foi em Natal, nas dunas. Ele queria beber mais e ela não deixou.

A Mariana está nervosa, pega um copo de água para ela. Não, só quero lembrar, me deixem assim, de olho fechado, sentindo o cheiro do meu velho, do travesseiro dele, sempre mais baixo que o meu. Senta, senta. Não, Não quero sentar, me deixem em pé, quero respirar, quero me despedir para poder dizer oi de novo.

Ernesto e Mariana tiveram dois filhos homens. Era o mais novo quem estava ao seu lado esquerdo. Ela sentia que a sua pele parecia papel manteiga encostada na dele. Pele áspera a minha, velho tem que se hidratar. Mas nessa hora, não sei se pelo Sol, pela emoção, pelo cheiro de terra ou pela falta do cheiro de Ernesto, ela teve um pequeno desmaio.

Sonhou que corria menina para os braços de Ernesto. Eles estavam novos. Abraçou tão forte o pescoço daquele homem que foi seu companheiro por mais de 40 anos porque ela sabia que era um sonho e que ela podia acordar a qualquer momento. Ele a rodou  no ar, como quem roda girassóis, agarrou forte a menina e sussurrou, como tantas vezes tinha feito. Te sinto tanto. Te espero. Sim, sim, sim!


Ela chorou e acordou com o mais velho segurando-a nos braços. Sorriu, ainda tinha nos braços o cheiro de Ernesto.

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