Tô só observando

Tô só observando

quinta-feira, 31 de julho de 2014

A vida não é só sonho


Talvez seja porque acreditamos que a vida é sonho e aí nunca deixamos de sonhar. 

Mas a vida não pode ser sonho, ela tem que se realizar.

E aí, quando realizamos, deixamos de sonhar?

Não, buscamos outro sonho pra sonhar,

Como uma ciranda de roda na cabeça, que não pára de girar,

Aí cai num lugar, outro sonho a realizar,

Vida chata essa, de busca, sempre a procurar,

Quando simplesmente quero, profundamente respirar,


Acordar, alegrar, serenar, amar. 

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quarta-feira, 30 de julho de 2014

Dona Maria

Dona Maria sempre morou no mesmo bairro, nunca quis sair de lá, achava que isso lhe dava raízes. Ela teve 3 filhos, sempre trabalhou em lojas do bairro, cuidando das crianças do vizinho, fazendo pequenos consertos nas roupas dos outros. Todos gostavam dela, muito mesmo. O marido foi embora com outra, mas mandava dinheiro suficiente para ajudar a criar os filhos. Cuidava da mãe também, que morava nos fundos da sua casa. Até que um dia, a mãe morreu, dormindo, que nem Sol no fim de tarde.

Dona Maria ficou triste, mas não muito. Teve enterro, missa de sétimo dia e os dias passaram. Dona Maria achou bom alugar o quartinho que fora da mãe e buscou limpar o quê tinha lá. Cada recordação Meu Deus, de fazer doer o peito, até que achou uma caixinha, pequena, com pequenas jóias e bijouterias, abriu. Uma carta do pai, dizendo que queria conhecer a filha. Dona Maria teve raiva, porque a mãe não deixou-a conhecer o pai?

Dona Maria buscou mais cartas, fuçou mesmo, a mãe não podia ter escondido o pai de mim, a mãe nunca foi honesta comigo. Será que a mãe foi solteira? Com esse pensamento, Dona Maria achou a foto do pai, viu que era um homem bonito, devia ser rico, achou nome e sobrenome e ligou para o Senhor Luiz da Gama. Disse que a mãe tinha morrido. Silêncio. Não falo com sua mãe há mais de 60 anos. A voz envelhecida estava fraca. Não fala há mais de 73 anos. Tenho 90 anos, a gente se arrependeu, mas ela fugiu da cidade...

Ela morreu. Desligou. Não teve dó da mãe, mas entendeu. Ligou para os filhos e fez mingau de polenta, como quando crianças. Vendeu a casa e foi morar em prédio, com mais raízes.


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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Porque seguimos

Perdoa, por mais que te doa
Perdoa e segue
Perdoa e esquece
Perdoa?
Poderia perdoar se a mente parasse de cismar
Poderia perdoar porque é certo
Porque sigo

E porque sigo
a mente pára
E porque pára
a gente esquece
E quando esquece
puff, sumiu

E quando some
A gente alivia
Não só pelo perdão
mas pelo próprio coração

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terça-feira, 22 de julho de 2014

desEQUILÍBRIO

Equilibrío, é o que todos buscamos não é? Não, não é. Isso é mentira, a gente acha que busca o equilíbrio, porque o auto-boicote, a que me refiro carinhosamente como uma puta mentira prá sim mesmo, vem com força total!

"Me controlei horrores hoje, não comi chocolate". Aí você lembra que comeu um alpino e um doce de abacate.
"Não tô tão tensa". Aí vem uma dor de cabeça do além.
"Não tô nervosa". "NãO tÔ NeRvOsA". "NÃO TÔ NERVOSA!!!!"

Desequilíbrio. Hoje, só de ter respirado diferente, percebi que o peito estava apertado, a nuca tensa, a barriga tensa, as costas tensas, ou seja, bem tensa.

Desequilíbrio.
"Ah, mas todo mundo é assim".
"Ah é bom, faz a gente se mexer".
"Ah, é bom, emagrece".

E na busca pelo equilíbrio, penso: não é todo mundo assim, não deveria ser isso que nos faz mover, fecha a boca e faz exercício.

"Ah, amanhã eu faço" "Só hoje, eu mereço"  rsrsrsrs Equilíbrio?

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quarta-feira, 16 de julho de 2014

O que é, o que é? Rima Pobre

O que é, o que é, que passa creme anti-rugas e acorda com a cara do Batoré?
O que é, o que é, que como chocolate sem lactose porque não gosta de frutose?
O que é, o que é, que compra calça 38 mas não para de comer biscoito?
O que é, o que é, que faz rima idiota prá se enganar que tá uma bolota?

Sim, é nóis, mulhé, que tem um ciclo hormonal, que faz a gente parecer banal, quando só quer ser legal.

Sim, é nóis, bicho que sangra, que busca ser santa, enche a pança e não descansa da comilança.

Sim, é nóis, bicho feminino, que quer emagrecer, rejuvenescer e esquece que é só amadurecer.

E o que é que é, de verdade?

De verdade, o que é, a gente não sabe, por isso que a gente muda todo dia!

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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Clara

Clara lembrava de si criança. Lembrava da barriga redonda que ela inflava de ar porque achava graça não ver os pés. Aos 10 já não tinha graça fazer isso, todas as meninas da classe já tinham crescido e ela insistia em brincar de shorts na rua.


Clara achou a adolescência muito difícil. Os seios não cresceram como o das outras meninas, o quadril era largo e mesmo magra, parecia gorda. Ela também não esqueceu da dor do primeiro sutiã e da primeira menstruação.

Clara, na faculdade, decidiu entrar para uma turma de revolucionários, como quase todos os jovens adultos resolvem fazer. Ela entrou. Era aceita, mas continuava a se sentir um bicho fora do ninho. Começou a trabalhar intensamente e a murchar a barriga.

Clara não gostava da própria barriga, achava-a grande perto das outras mulheres, mas ela aprendeu a segurá-la a fim de não fazer feio para homens, colegas de trabalho, amigos, família. Todo mundo esconde a barriga, pensava ela.

Clara não percebeu que algo silencioso já a tinha invadido há muitos anos, que não era só a barriga que ela segurava, segurava a si mesma. Fez diversos tratamentos para controlar uma dor que ela tinha no corpo e que ninguém sabia de onde vinha. 

Clara fez de tudo: alopatia, ressonâncias, homeopatia. E, num dia, de muita dor, ela dormiu no sofá e sonhou que era criança e que subia uma cerca alta. Ela se esforçava muito e devido ao esforço, a barriga relaxou e ela olhou aquela barriga redonda de novo e sem perceber, estava no alto da cerca, empoleirada, feliz.

Clara acordou sem dor e tranquila. Olhou para si. Como num raio pensou: solta, tá tudo bem, seja feliz. Um outro raio respondeu: mas o que vão pensar de mim? Queria dizer para Clara: não ouça os raios, eles são barulhentos, ouça o silêncio e respira.

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segunda-feira, 7 de julho de 2014

E viva o Chico!

Todo mês ela faz tudo sempre igual
Se sacode logo cedo de manhã
Se coloca o absorvente habitual
E o corpo fica igual ao de uma rã.

Todo mês é uma dor de fazer rachar
E essas coisas que dá em toda mulher
Fico pensando quem eu posso matar
E me calo com um golinho de café.

Todo mês eu só penso em me acalmar
Meio do mês eu só penso em dizer não
Depois penso nas contas prá pagar
E me calo com uma fome de leão.

Fim do ciclo como era de se esperar
É um puta alívio estar sem dor
E eu aperto a barriga prá acabar
Isso não pode continuar por favor!

Todo mês ela faz tudo sempre igual
Se sacode logo cedo de manhã
Se coloca o absorvente habitual
E o corpo fica igual ao de uma rã.

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sexta-feira, 4 de julho de 2014

Cheiro de Vó

Cheiro de vó não envelhece, fica guardado, lá no fundo da memória e de repente, andar pelo bairro faz a gente lembrar delas e sentir carinho.
Lembrar de se sentir em casa na casa delas,
das balas roubadas no bar,
do corpo, pequeno entrar na caixa do leite, que era de um plástico azul,
lembrar do cheiro do bolo de banana, da sopa de feijão, da terra onde tinha um pequeno milharal,
das minhocas que minha irmã jogava na gente,
das flores, dos limões, da roupa lavada no varal...
E aquilo que estava longe, fica perto de novo,
relembrando nossa finitude, através daquele olhar ancião.

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terça-feira, 1 de julho de 2014

O que acalanta



Assisti o filme sobre Frida Khalo a pouco. Nunca morri de amores por ela.

Hoje, deparei-me com esse quadro. É quase um símbolo. Raízes dos lados, branco/preto, Lua/Sol, colo... E essa mãe, que é ela, que acalanta uma criança adulta com um terceiro olho e ela, por sua vez, é acalantada por uma mãe, que também tem esses lados, com um seio que verte leite. Alguém observa essa mãe.

Mil interpretações, Mãe Terra sendo vista por quem? Deus? E na mesma hora em que essa idéia vem, ela some, porque Frida era comunista. Deus. E mesmo que não fosse, qualquer explicação tira a magia do que é visto, sentido e só depois, pensado.

Duro enxergar o negro em nós, esse lado que a gente se engana e insiste em dizer que não tem. Duro pensar que acalantamos e que podemos ser acalantados. Uma árvore brota de seu chão/coração seco por onde sai o leite, que alimenta e chora. Plantas secas e leguminosas dos 2 lados. Tudo o que deixamos brotar em nós.

Sem falar, ela disse. Sem dizer, ela sussurrou.

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