Tô só observando

Tô só observando

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Encontro

Quando a vi entrar, pensei que podia sentir seu cheiro de longe. Não que ela estivesse suja, mas gosto de sentir o ar ao redor das pessoas e coisas. Ela estava linda, brilhava... De qualquer forma, pressenti que ela também queria se aproximar, pois seu olho brilhou. Pensei até em falar alto, mas estavam todos falando tão baixo que não queria incomodá-los e achei que se falasse, estragaria nossa comunicação não verbal, que me parecia tão interessante. A mulher que a acompanhava, gesticulava muito os braços, aquilo me distraía. Por que se movimentava tanto? Acho que devia ser solteira, mulher casada não se movimenta daquela forma. O rapaz que estava comigo é muito lamurioso, fica sempre divagando enquanto come.  Às vezes vejo que sua boca se mexe, mesmo quando não está comendo. Fiquei com receio dela achar que éramos dois doidos, por isso sorri.

Meu sorriso a estimulou, percebi uma leve vibração no seu corpo. Mas aquela amiga conhecia todo mundo, falava com todos, muitos passavam na nossa frente, e eu perdia o contato visual. Mudei um pouco a minha posição e a flagrei se movimentando, também me procurando. Sorri satisfeito, e ela sorriu envergonhada. Baixou os olhos e eu fiquei feliz por aquele gesto que demonstrava uma alma tranqüila e reservada. Prefiro o silêncio.

O silêncio nos olhava. O rapaz, dentro do seu próprio mundo, queria ir embora, não percebeu o que estava acontecendo, tentei explicar com calma, ele não me ouviu, mas eu precisava me retirar com ele. Ela, de longe, viu o que estava acontecendo e,  por seu lado, conversou com a mulher que não parava de se mexer.
Saímos – achei melhor não dar escândalo lá dentro – e assim que pude,  já comecei a gritar com ele, acusando-o de ser egoísta, que não olhava ao seu redor, que devia parar de olhar para si mesmo e tentava puxá-lo para dentro de novo e qual não foi minha surpresa, quando vi a minha amada, arrastando sua amiga para o lado de fora, também aos gritos, também insana, também brigando por mais um olhar.

Surpresos com nossas atitudes, olhamo-nos com admiração, ficando parados por um instante. Começamos a nos aproximar lentamente, analisando um ao outro. Coração palpitando forte. Estávamos perto o suficiente para nos beijar. Agora sim, podia sentir seu cheiro. Ela cheirava a Bonzo, ração antiga, ela era tradicional. Gosto disso.


Abanei meu rabo com satisfação, ela retribui com um latido feliz. Éramos dois golden retriever que tinham encontrado o amor, ali, na sala de espera da clínica veterinária.

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