Tô só observando

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quarta-feira, 30 de julho de 2014

Dona Maria

Dona Maria sempre morou no mesmo bairro, nunca quis sair de lá, achava que isso lhe dava raízes. Ela teve 3 filhos, sempre trabalhou em lojas do bairro, cuidando das crianças do vizinho, fazendo pequenos consertos nas roupas dos outros. Todos gostavam dela, muito mesmo. O marido foi embora com outra, mas mandava dinheiro suficiente para ajudar a criar os filhos. Cuidava da mãe também, que morava nos fundos da sua casa. Até que um dia, a mãe morreu, dormindo, que nem Sol no fim de tarde.

Dona Maria ficou triste, mas não muito. Teve enterro, missa de sétimo dia e os dias passaram. Dona Maria achou bom alugar o quartinho que fora da mãe e buscou limpar o quê tinha lá. Cada recordação Meu Deus, de fazer doer o peito, até que achou uma caixinha, pequena, com pequenas jóias e bijouterias, abriu. Uma carta do pai, dizendo que queria conhecer a filha. Dona Maria teve raiva, porque a mãe não deixou-a conhecer o pai?

Dona Maria buscou mais cartas, fuçou mesmo, a mãe não podia ter escondido o pai de mim, a mãe nunca foi honesta comigo. Será que a mãe foi solteira? Com esse pensamento, Dona Maria achou a foto do pai, viu que era um homem bonito, devia ser rico, achou nome e sobrenome e ligou para o Senhor Luiz da Gama. Disse que a mãe tinha morrido. Silêncio. Não falo com sua mãe há mais de 60 anos. A voz envelhecida estava fraca. Não fala há mais de 73 anos. Tenho 90 anos, a gente se arrependeu, mas ela fugiu da cidade...

Ela morreu. Desligou. Não teve dó da mãe, mas entendeu. Ligou para os filhos e fez mingau de polenta, como quando crianças. Vendeu a casa e foi morar em prédio, com mais raízes.


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